18/05/12

Remoínhos de mar



Andam cavalos à solta
Na torna de cada onda
Em remoínhos do ocaso
Da espuma fazem sombras
E do vento o seu canto

Cada volta um tormento
De crinas onde eu danço
Esta tardia esperança
De flores no meu regaço

Indomáveis, atrevidos
Nas tornas em contradança
Não são cavalos perdidos
Soltam palavras de espanto
Ternuras de um sorriso
E neste solto vai-vem da vida
Fendem silentes laços

No mar andam cavalos
De crinas soltas ao vento
Desenham sombras, alento
Na criança adormecida


(imagem Google)



11/01/12

Labirinto dos sonhos



Caminhava num estreito e degradado corredor
sumida nos sons de um silêncio profundo, abstracto.
Para trás, ficavam seres estranhos
com seus olhos carregados num misto de dor, ódio,
desconfiança e espanto.


Caminhava apressada como que instruída
pelo apelo da derradeira porta.


Na sua pressa quase esbarrou com três homens furibundos
sustendo no ar uma frágil e pequena cadeira de pinho
ocupada por uma criança com uma corda grossa no pescoço.
Atónita, alarmada, olhou para cima.
A meio metro da cabeça, a ponta erecta estava cortada.


Entrou no quarto dos fundos onde uma mulher desvairada
acusava, com gestos, o menino da cadeira por todo o mal sucedido.


Que mal? Porquê tanta demência se nem um som se ouvia?
Olhou ao seu redor tentando entender o que apenas sentia.


Naquele quarto pequeno, onde o caos se tinha instalado,
avistou mais duas crianças imóveis, subnutridas:

uma num canto em novelo encolhida,

outra numa enxerga e virada para a parede.
Devagarinho, rodou-a.
O seu mundo era outro.

Aquele das coisas mais simples e belas
onde a mobilidade cerebral a ciência ainda não conserta.

Mais tarde veio a saber que, a menina da enxerga,
abandonada num destroço qualquer, não pertencia à família.

Ainda hoje estremece à peculiaridade isócrona do sonho.



(escrito em 22/01/2010)